Se há uma época apropriada para um álbum chamado ‘CALM’ ser lançado, ela é agora – e felizmente a 5 Seconds of Summer é a banda que fez isso.
Após o sucesso do single ‘Youngblood’ no verão de 2018, o grupo realizou a enorme turnê ‘Meet You There’ e formulou sua próxima era artística. Liderada pelo lançamento do single ‘Easier’ em 2019, a nova direção seguida pela banda pareceu ser tão cinética quanto os lançamentos de seus álbuns anteriores, incluindo seu álbum auto-intitulado de estréia e ‘Sounds Good Feels Good’. O videoclipe da primeira música de trabalho do novo disco é cheio de suor e mistério, e traz seus integrantes com riffs de guitarra e água – literalmente – até o pescoço. ‘Easier’ pode não ter sido tão próxima de um hino quanto as músicas que deram início a 5 Seconds of Summer, como ‘Good Girls’ ou ‘She Looks so Perfect’, mas provocou os fãs de uma maneira totalmente nova, uma forma pós-boyband.
O segundo single lançado, ‘Teeth’, virou de cabeça pra baixo as posturas tão ‘geladas quanto gelo’ mostradas pelos membros da banda em ‘Easier’; liderada por gritos bem colocados, linhas de baixo agitadas e apoiada em uma bateria bem marcada em toda a sua extensão, ela foi um alarme abrasivo para os fãs da banda se prepararem para a virada trazida pelo seu novo material.
Agora, com seu mais recente álbum ‘CALM’ oficialmente lançado e estreando como número #1 no Reino Unido, a banda está pronta para apresentar aos fãs um novo catálogo cheio de energia. Faixas como ‘Wildflower’ e ‘Not in The Same Way’ se destacam como músicas habilmente escritas que representam os altos e baixos do amor para uma geração lutando por formas de mostrar afeto de verdade. Claramente, nem todas as músicas são tão abrasivas e agitadas quanto ‘Teeth’; ‘Old Me’ ocupa o banco da frente no grupo de faixas de fácil escuta e importante reflexão. O ‘CALM’ é um álbum pouco preocupado em ser apenas uma coisa, e mais preocupado em mostrar as diversas habilidades sonoras e de composição da banda.
‘CALM’ da 5 Seconds of Summer acaba não sendo tão calmo. Ele é tenso, mas sucinto: combina riffs de guitarra sujos, vocais secos, linhas de baixo borbulhantes e letras apaixonadas. É um álbum tão “calmo” quanto a vida pode ser.
Leia a entrevista completa da PAPER com o vocalista da 5 Seconds of Summer, Luke Hemmings, abaixo, onde ele desconstrói o ‘CALM’ e fala sobre como foi produzir as suas faixas.
Hoje tive a chance de sentar e digerir o ‘CALM’ tranquilamente, foi tão bom. Eu tenho todo o tempo do mundo para ouvir as músicas de todo mundo, é incrível.
É quase como se você tivesse tempo demais.
Eu cobri o lançamento de ‘Easier’ no início do ano passado e, por isso, tem sido interessante ver como o ‘CALM’ se desenvolveu deste então. Ele é ‘O ÁLBUM’.
Muito obrigado. Nós lançamos ‘Easier’ há um bom tempo, hein? Saíram um monte de outras músicas desde então.
Sim, ele abriu a era.
É estranho lançar o álbum sem ter o resto da banda na mesma sala e não estarmos viajando pelo mundo juntos, mas também é algo bom. Assim como você, eu consigo digerir esse lançamento de uma maneira muito diferente do que como foi com os outros álbuns. Obviamente, o que está acontecendo é terrível, e não é um bom momento para o mundo em si, mas, ao mesmo tempo, tenho o privilégio de estar em casa e lançar o disco. Ser capaz de absorver tudo e fazer as coisas de uma maneira diferente e ver os pontos positivos nisso tudo.
Parece um ambiente mais controlado? Tipo, você consegue observar as reações dos fãs nas mídias sociais e ainda pode interagir com os outros membros da banda online ou via mensagens de texto? É um pouco mais tranquilo?
É mais tranquilo quase de uma maneira ‘quieta até demais’. Nossas turnês promocionais são bastante pesadas, nós estamos em todos os lugares, o tempo todo, fazendo um monte de coisas. Temos sorte de poder fazer essas coisas. Mas tem sido bom, como você disse, [agora] fazemos um monte de coisas de casa e pensamos no que os fãs gostam. ‘Eles gostam disso?’ E então, conversamos com nossa equipe e a banda no FaceTime ou no Zoom ou o que quer que seja, e pensamos fora da caixa. Embora todo álbum seja lançado para os fãs, parece que dessa vez o foco está mais neles do que nunca.
E o álbum é intitulado ‘CALM’. É quase como uma indicação para que todos fiquem calmos neste momento. É meio estranho como tudo se alinha.
Sim, é meio estranho. Essa é definitivamente uma das formas de olhar para isso.
‘Easier’ foi o projeto que levou à exploração e construção dos temas que moldaram o resto do ‘CALM’?
Bem, existem dois lados, mas no lado da escrita, obviamente, todas as músicas que escrevemos têm um impacto na linha que decidimos seguir. Eu acho que ‘Easier’ foi uma das primeiras faixas [produzidas], mas músicas como ‘Red Desert’, para mim pessoalmente como compositor, moldaram o álbum na parte criativa. Pensando no lançamento, acho que ‘Easier’ e ‘Teeth’ são bastante sombrias, elas representam um lado mais sombrio do álbum. Quando chegamos a ‘No Shame’, senti como se houvesse um lado mais leve e mais completo nessa música, quase como uma vibração irônica. Acho que essa sensação cresceu com ‘Old Me’ e tudo se tornou mais reflexivo, então veio ‘Wildflower’ – que é muito vibrante, o total oposto de músicas como ‘Teeth’; é assim que eu pensaria ao ouvir o álbum.
Entendi.
Eu acho que ‘Easier’ obviamente molda o disco, porque *é* a primeira música [lançada]. Na verdade, nunca lançamos um álbum em que 40% das músicas saíram antes do lançamento do disco. É o que muitas pessoas estão fazendo no momento para fins de streaming e outras coisas. Tem sido realmente, por muitas razões, um lançamento interessante.
Você até já remixou uma música – ‘Best Years’ – para o aplicativo Calm. Eu imagino que ela seja uma das faixas que também moldaram o álbum.
Eu amo essa música. Eu acho que é a mesma coisa. Este álbum tem um lado mais leve e esperançoso, que eu realmente adoro. Acho que estávamos muito sombrios no terceiro álbum e até no segundo, suponho, há muitos momentos sombrios nele. Eu acho que este tem isso. Ele tem esse tom. Não que eu esteja nos comparando com *o* cara, mas existe uma vibração meio Johnny Cash em muitas músicas. Mas também tem essa esperança no final, e acho que ‘Best Years’ é um bom exemplo disso. Eu não sei se é o momento pelo qual estávamos passando [nos outros discos], ou se estávamos com medo, ou achamos que deveríamos ser um pouco mais sombrios – mas esse álbum, ele foi construído de uma forma mais livre. Eu acho que ‘Best Years’ não teria sido uma música certa para o último álbum ou o álbum anterior. Ela foi escrita apenas com um violão e em grande parte do processo éramos apenas eu e Ryan Tedder em uma sala. Ela é um bilhete de amor muito bonito. Ela é quase como uma promessa em uma música: mostre amor.
Uma das diferenças que coloco entre o ‘CALM’ e os álbuns anteriores é que este é mais um álbum para curtir tranquilo. Eu não me levantaria e dançaria o ouvindo, mas eu poderia acompanhar o ritmo das músicas e curtir. Isso é difícil de conseguir com um disco pop.
Algumas das faixas deste álbum gravamos ao vivo como uma banda e, em seguida, escrevemos a música por cima da base, o que explicaria um pouco da sensação de ‘jam’.
Quais?
‘No Shame’, com certeza.
‘Not In The Same Way’ também foi assim?
Ela veio de uma linha de baixo e uma sessão mais descontraída; ‘Teeth’ também surgiu assim, uma sessão tocando sem pretensão e uma linha de baixo, e ‘Lover of Mine’ foi composta em casa. Não tem um padrão. Mas definitivamente teve mais a alma da banda, se isso faz sentido.
Quando eu penso nos álbuns anteriores da banda, parte das letras deles têm esses ‘hinos’ que se destacam e ficam presos na nossa cabeça. Enquanto neste álbum eu diria que a instrumentação é o que mais se destaca, é o que fixa nos nossos ouvidos.
É estranho, agora que você está falando sobre isso, estou aprendendo mais sobre o álbum. Algumas coisas acontecem mas você não pensa sobre elas. Mesmo pensando no disco agora: ele está dividido entre ‘jam’ – eu odeio a palavra ‘jam’, mas é a única que existe para isso – e músicas feitas de forma acústica com a letra sendo escrita depois.
Você se lembra da primeira faixa que vocês se reuniram para escrever para o ‘CALM’?
Eu achava que havia sido ‘Red Desert’, mas acho que ‘High’ foi a primeira faixa escrita para o álbum, o que meio que deu um tom para as composições dele. Então, quando escrevemos ‘Red Desert’ sozinhos, como uma banda, nós entendemos o que queríamos fazer não só liricamente, mas também sonoramente com esses grandes vocais. Isso meio que abriu caminho para outras músicas como ‘Wildflower’.
Vocês tiveram que tirar algumas músicas do álbum que você gostaria de ter deixado?
Geralmente escrevemos 100 músicas para os nossos álbuns. Essa foi a única vez que fizemos de 20 a 25 músicas. Eu acho que é porque entendemos melhor como queríamos soar e sabíamos disso desde o início.
‘Not In The Same Way’ é uma faixa que realmente se destacou para mim. Eu queria perguntar especificamente sobre o processo de produção dessa música e o que significa tê-la no disco.
Sim, essa música foi escrita muito rápido, e foi um dos momentos mais animados no estúdio, eu acho. Eu e Ash estávamos lá, e Andrew tinha essa linha de baixo [imita ruídos de baixo] e então começamos a cantar, fomos seguindo e tudo meio que aconteceu muito rapidamente. Muitas vezes, esse processo é longo e você se sente o pior compositor do mundo, e essa foi uma das ocasiões em que tudo se encaixou rapidamente. Lembro de sair do estúdio depois disso e dizer: “porra, é por isso que eu amo escrever!”
Você tem um buzz.
Esse foi um dia em que o processo pareceu fácil. Se você consegue passar por um desses dias em que está escrevendo e acaba com uma música que você ama, ele se torna um ótimo dia. Essa faixa tem a minha ponte preferida no álbum, porque a ponte obviamente fala de um momento tumultuado no começo de um relacionamento. É sobre o medo de pular de cabeça nele, de nos machucarmos; ela foi escrita da perspectiva feminina. Estou cantando a partir da perspectiva masculina e essa ponte é sobre o outro lado. Há dois lados em toda história. Eu amo [essa] história, na verdade. É muito honesta. Acho que nunca fizemos uma música assim antes.
De onde veio essa perspectiva conversacional, a narrativa e o diálogo na letra?
Bem, é sobre mim e minha atual namorada, e ela é incrível. Talvez por Ashton também estar lá, ele tenha escrito sobre outra pessoa, mas esse é o ponto sobre o qual eu estava escrevendo. Ela é um lindo ser-humano. A letra poderia ser descrita como… quando os piores momentos são escritos no papel, não parecem algo bom. Era muito importante ter o outro lado dos acontecimentos, porque muitos dos erros são meus, sabe? [Era importante] ter uma voz dizendo de volta para mim: “O que você diria sobre isso? O que ela sente por você? O que você fez para causar isso?”
Eu também queria perguntar sobre as apresentações ao vivo desta era. Que músicas vocês já tocaram ao vivo?
Tocamos bastante ‘Easier’. Tocamos muito ‘Teeth’. Tocamos ‘No Shame’ uma vez. Nós ensaiamos muito. Tenho a sensação de que tocaremos essas músicas na turnê, espero. No momento, estamos seguindo, mas espero que as coisas se resolvam e ainda possamos tocar. Haverá muitas coisas do quarto álbum na estrada.
Vocês também tocaram no show beneficente contra os incêndios florestais no mês passado, como foi essa experiência?
Essa foi a primeira vez que tocamos ‘No Shame’. Esse era o show sobre o qual eu estava falando. Quero dizer, voltei [para a Austrália] na época do Natal e vi em primeira mão os efeitos dos incêndios. Eles chegaram muito perto da casa dos meus pais. Felizmente, não a atingiram, mas o céu ficou vermelho e foi um período muito triste. Fazer um show e tocar para uma multidão é algo ‘fácil’, poder fazer isso com esse tipo de poder e positividade por trás, com pessoas se unindo por uma causa tão grande, é algo que fazemos sem nem pensar. Foi realmente especial. Eu sempre quis tocar naquele lugar e, como eu disse, [lutar] por essa causa, foi realmente muito especial. Foi um motivo triste, mas foi um evento muito legal.
Você conseguiu interagir com algum outro artista? Vi que o line-up estava cheio.
Havia muita gente lá. Vi a banda do Alice Cooper na área de alimentação. [Risos] E então eu vi Adam Lambert nos observando na lateral do palco!
Meu Deus, quanta pressão!
Ele estava usando uma jaqueta verde de oncinha, não dava para não perceber ele ali. Ele é incrível pra caralho!
Fonte: Paper Magazine
Tradução/Adaptação: Fernanda Lima (Equipe 5SOS Brasil)